noites no tinder

ele me perguntou porque eu não queria um ménage. se dois caras eram demais pra mim, talvez ele e mais uma mulher fosse mais interessante. "duas pessoas é demais pra mim", eu corrigi, "eu disse pessoas". às vezes eu me pergunto como eu deixo a conversa chegar nesse ponto com esses caras. esse era um que eu nunca tinha visto na vida, obviamente. e ele já se achava próximo o suficiente de mim para questionar minhas escolhas de não repetir situações sexuais que me deixaram desconfortáveis no passado.

ele ia ser diferente, ele ia me comer certinho e não me machucar. ia me chupar a noite toda e estar lá pra mim quando eu precisasse de um apoio emocional em alguma madrugada.

com ele ia ser diferente. ele é diferente.

se ele tivesse se mantido quieto em vez de expressar seus pensamentos, a gente teria saído e transado loucamente por uma noite toda. e repetiríamos por diversas noites o ciclo, até eu me cansar do vazio emocional que gera só trepar com um desconhecido qualquer que eu conheci num dating app. mas não, ele resolveu abrir a boca e estragar a magia. eles sempre fazem isso.

esse não foi o primeiro. duas semanas atrás eu conheci outro cara, que foi direto comigo e disse que não morava aqui, que iria ir pro seu estado de origem no final da semana. "eu não quero iludir ninguém", ele disse e logo depois me contou que poderíamos passar a noite no quarto de hotel que ele estava hospedado, se eu quisesse.

um pouco depois de gozar na minha boca, ele me disse que não sabia que a noite ia terminar assim. que ele queria me ver mais uma vez, antes de ir embora. na segunda vez, fomos pra minha casa. onde ele disse que, se pudesse, ficaria comigo pra sempre. eu virei pro lado e fiquei a noite toda sem conseguir dormir. queria que ele tivesse se mantido em silêncio também. de manhã falei que era melhor ele pegar um uber sozinho. ele me mandou diversas mensagens quando entrou no uber, perguntando se dava pra me ver só mais uma noite, antes dele ir definitivamente embora.

todo mundo quer só mais uma noite.

respondi que não.

ele me disse que voltaria em fevereiro.

falei que provavelmente eu teria compromisso.

silêncio, finalmente.

houve um terceiro, mas esse a gente só transou loucamente na minha imaginação, já que nunca consegui arrastar ele pra nenhum lugar de verdade. mas imaginava que, se conseguisse, acabaríamos em um motel caro (pois quanto mais eu falava com ele, mas eu sabia que ele não era do tipo que faria qualquer coisa em lugares baratos); eu pediria para ele puxar meu cabelo enquanto me comia e gemeria alto até alcançar o orgasmo, sem querer saber se ele já chegou lá ou não. no fim de tudo, eu iria para minha casa sozinha, em silêncio, sem nenhuma mensagem de como foi bom e de como ele gostaria de me ver de novo. e, quando eu deitasse em minha cama, finalmente eu teria paz.

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